FUGA INTERROMPIDA
programa performativo, 2022 - 2025
programa performativo, 2022 - 2025
FUGA INTERROMPIDA (2022-2025) é um programa performativo concebido durante a residência artística na Galeria Refresco (RJ, 2022), com curadoria de Daniela Avellar, compreendendo performances, proposições textuais, experimentação sonora e produção audiovisual. FUGA (15', 2024) é um curta-metragem experimental dirigido por viníciux da silva e Raphael Medeiros, fruto da residência no LAB CINEMA EXPANDIDO (DM Filmes, Cinemateca MAM RJ, 2024).
Em junho e julho de 2022, foram apresentadas duas performances (FUGA INTERROMPIDA ATO UM e FUGA INTERROMPIDA ATO DOIS), com Angie Barbosa, Julien Cortes, JARDES, Tuca Mello (1) e viníciux da silva e Tuca Mello e viníciux da silva (2), respectivamente. Concebido a partir da noção de fugitividade, o programa performativo FUGA INTERROMPIDA, em seu primeiro momento, lidava com a redistribuição da violência, a afirmação da vida e a transmutação, gerando, a cada ato, um texto inédito que seria ativado com a performance. Cada performance produz, então, um desenho em algodão, feito coletivamente, enquanto registro da sua efêmera ativação.
"A voz — na verdade, as vozes do ato performático cortejam o fim do mundo como o conhecemos — nas palavras de da silva, o abismo do mundo colonial: “vocês conseguem ouvir?/ O som das minhas profecias,/ vocês conseguem ouvir?”, repetem.
No roteiro comentado, a artista e pesquisadora interveio de modo variado, até que, diferenciando os grifos, construiu legendas próprias. Isto é, ela pode se perder tanto quanto os leitores. E o que interessa em nosso caso, no lugar da performance, é o material que estava destinado ao descarte ou à invisibilidade no espaço privado. Ao mesmo tempo, interessa a desorientação causada pela leitura de material no qual as palavras também pululam, por conta das intervenções, fora das estrofes e das margens."
(Luís Matheus Brito, 2023)
Daqui, desenhamos o mapa do lugar: “o fugitivo é aquele que não se localiza na paisagem ao mesmo tempo em que ele a compõe. O fugitivo não está apagado, é bem diferente disso, pois ele está não localizável pelo olho do Mundo”.
Como, então, tornar-se ingovernável porque sabemos que precisamos escapar desse labirinto colonial sem a mediação das instituições? Fugitividade é “criar as condições para outros modos de vida.”
Originando-se do programa performativo FUGA INTERROMPIDA, o curta-metragem FUGA é o resultado do nosso encontro. É o diálogo entre duas perspectivas da mesma fuga e do mesmo movimento de dissipação. Esse movimento, que reconhecemos fugitivo, é a crítica institucional, a estratégia de sobrevivência, a construção contínua de uma socialidade que excede as barreiras do cativeiro e das forças opressoras.
Inspirado pelo pensamento negro radical, FUGA é um experimento sobre o movimento errático da fuga e sua impossibilidade que produz um jogo de imagens entre dois corpos que habitam suas aberturas, existindo somente em e para além da própria fuga. Nesse sentido, em diálogo direto com as nossas referências — Fred Moten, Tina Campt, Beatriz Nascimento, Christina Sharpe, entre outras — FUGA aposta na “transformação da precariedade em formas criativas de afirmação, reorientando a vulnerabilidade e tornando-a (re)generativa”.
Ficamos com a questão: como imaginar a fuga sem reforçar a violência ética e material que, muitas vezes, condiciona-a? Pensando nisso, FUGA é o resultado dessa reflexão, a tentativa de tomar de volta a possibilidade de uma nova história social da recusa, uma que tem como paradigma a alegria e a liberdade.